Imagem: Barbosa (1985)

domingo, 13 de setembro de 2009

Paradigma da Mulher Hormonal vs Racional

Notícia da AGÊNCIA O GLOBO

Hormônios influenciam gastos da mulher

Uma das pioneiras no estudo da neuroeconomia no país, a economista Eliana Bussinger, mestre em matemática e professora da Fundação Getúlio Vargas, acredita que a flutuação hormonal da mulher pode ter um impacto importante em suas decisões financeiras.
Segundo pesquisas feitas por ela aqui no Brasil, e por pesquisadores das Universidades de Harvard e Carnegie Mellon, nos Estados Unidos, sete hormônios têm um grande papel no comportamento feminino: a prolactina, que faz a mulher se preocupar mais com o outro; o cortisol, que a deixa medrosa e estressada; a ocitocina, que desperta um lado mais amoroso; a progesterona, que aumenta a delicadeza e a sensibilidade; a testosterona, que influencia a agressividade; o estrogênio, que incentiva a vontade de controle; e a dopamina, que deixa a mulher mais cética e desconfiada.

– Se observarmos o ciclo menstrual de uma mulher, veremos que há um período em que a produção de testosterona cai bastante. As mulheres na pós-menopausa produzem uma quantidade ínfima ou nula de testosterona. Nestes ciclos, as mulheres ficam menos predispostas ao risco do que homens jovens, por exemplo, e vão lidar com o dinheiro de forma diferente. Na tensão pré-menstrual, quando o corpo feminino é inundado por estrogênio, a mulher fica extremamente controladora com tudo, incluindo suas finanças. É um período contra-indicado para tomar grandes decisões financeiras ou discutir sobre salários – acredita Eliana.

Entre os 18 e 30 anos, fase em que a mulher atinge a maturidade sexual e está em busca de um parceiro, predominam a testosterona, o estrogênio e a progesterona. É nessa fase que o sexo feminino costuma ser impulsivo com dinheiro e se endividar no cartão de crédito.

– Nessa fase a mulher costuma consumir excessivamente, com o objetivo de tornar-se atraente. Não se trata de mero consumismo, como muitos levianamente se apressariam em apontar, mas também de uma condição hormonal típica dessa fase. É a época mais perigosa para elas em termos financeiros – acredita. Já na menopausa, quando os níveis de progesterona ficam baixos, as mulheres tendem a preferir os investimentos seguros a médio prazo.

Para Eliana, a neuroeconomia é uma nova forma de pensar sobre dinheiro e na qual conhecer os sinais do corpo vai ser fundamental para tomar decisões financeiras sensatas e acertadas. No caso das mulheres, que enfrentam flutuações hormonais diárias e mensais e têm aumento ou diminuição de certas substâncias no organismo ao longo da vida, esse conhecimento é ainda mais importante.

– Conheço mulheres que nem sabem que produzem testosterona. Milhões de outras sequer pensam que os hormônios são produzidos em quantidades diferentes conforme o dia do mês ou da idade que temos. Em termos financeiros, saber dessas variações pode ajudar a tomar decisões financeiras mais racionais e, evidentemente, menos emocionais. E esse controle é muito importante no mundo financeiro – acredita a economista.

Ela lembra dos inúmeros estudos que mostram que homens e mulheres enxergam o risco – principalmente o financeiro – de forma diferente. Embora as explicações englobem questões físicas, sociais, históricas e psicológicas, ela cita o recém-publicado estudo de Cambridge que aponta a importância da testosterona na capacidade de tomar riscos.

– É claro que a variação hormonal não define tudo. Mas a decisão de um investimento costuma ser em função de três variáveis: prazo, rentabilidade e acessibilidade. Vejamos o que isso pode significar quando falamos de hormônios: a prolactina, que é um hormônio que predomina durante a amamentação, provoca, segundo os estudiosos, um estado de visão de curto prazo. Uma imagem dessa situação seria algo mais ou menos assim: “produzir leite nas próximas três horas, comer bem na próxima refeição, sobreviver à loucura dos horários do bebê nas próximas 24 horas, dormir enquanto ele dorme também”. Tente convencer uma mãe nessa situação, que apenas observa as horas imediatamente à sua frente, que o mercado de ações é um bom investimento, ou que a bolsa pode significar uma boa opção para investimentos. Duvido que você consiga, a não ser que ela já seja uma investidora experiente. Neste caso, a razão é hormonal, não tenha dúvida – diz Eliana.

A ginecologista Carolina Carvalho, do departamento de ginecologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), afirma que a flutuação hormonal realmente influencia muito o comportamento feminino, mas que os hormônios sozinhos não justificam nada.

– Sem dúvida, as oscilações hormonais provocam instabilidade, nervosismo, tristeza e mais uma série de emoções nas mulheres. Mas a forma como elas agem diante das decisões também depende muito da educação, da cultura e do momento de vida. Ou seja, nada de jogar a culpa nos hormônios – avalia a médica.

Testosterona e bolsa de valores
O pesquisador John Coates, da Universidade de Cambridge, publicou recentemente um estudo feito com um grupo de homens na faixa dos 30 anos para mostrar como o desempenho deles é afetado pela testosterona. O pesquisador percebeu que quanto maior o nível de testosterona pela manhã, maior a coragem e a agressividade do homem na hora de lidar com seus clientes e com seus investimentos. Naqueles nos quais o cortisol, o hormônio do estresse, era mais alto do que a média, as decisões eram feitas de forma mais precipitada e errada.

O próximo projeto de Coates é investigar os efeitos da ocitocina, hormônio presente em maior quantidade nas mulheres, nos mesmos funcionários. Embora os homens também produzam ocitocina, em estudos preliminares, os que receberam uma dose extra do hormônio ficaram com mais facilidade de lidar com o estresse no trabalho e conseguiram interagir melhor com seus clientes.
Entendendo a neuroeconomia
A neuroeconomia é um ramo dos estudos econômicos que tenta entender quais hormônios e neurotransmissores podem afetar as decisões ditas racionais dos seres humanos. O economista George Loewenstein, professor de Psicologia Econômica da Universidade Carnegie Mellon, em Pittsburgh, um dos precursores da idéia, acredita que a neuroeconomia prova que os processos decisórios nunca são completamente racionais.

O efeito da ação hormonal no comportamento não é novidade, mas agora pesquisadores de Harvard, do California Institute of Technology e da Universidade de Cambridge estão tentando descobrir como as decisões financeiras de homens e mulheres podem ser afetadas pelo equilíbrio químico do corpo. No Brasil, o Centro de Estudos e Processos de Decisão da Escola de Economia da Fundação Getúlio Vargas, em São Paulo, têm feito estudos para mostrar como a diferença entre os comportamentos masculino e feminino afeta como cada sexo lida com suas finanças.

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